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Lectio Divina: Um Guia Completo e Prático

imagem mostra um monge fazendo Lectio Divina

A Lectio Divina é uma prática milenar do cristianismo, que convida os fiéis a um encontro íntimo e transformador com Deus através da leitura orante das Sagradas Escrituras. 

Com raízes profundas na tradição monástica, esse método de oração foi sistematizado no século XII por Guigo II e tem ganhado relevância no cotidiano dos cristãos como um caminho para a espiritualidade profunda. 

Este artigo oferece um guia prático e completo sobre a Lectio Divina, explicando seu significado, os passos fundamentais e fornecendo dicas úteis para incorporá-la à vida diária. Seja você iniciante ou já familiarizado com essa prática, aqui encontrará orientações valiosas para intensificar sua jornada de oração e meditação com a Palavra de Deus.


O que é a Lectio Divina?

A Lectio Divina, ou “leitura divina”, é uma prática espiritual profundamente enraizada na tradição da Igreja Católica. Seu objetivo é promover um encontro com Deus por meio da leitura orante das Sagradas Escrituras. 

Essa forma de oração é composta por quatro etapas ou degraus espirituais, que conduzem o praticante a um relacionamento íntimo com Deus através da Palavra. Esses degraus são: Lectio (leitura), Meditatio (meditação), Oratio (oração) e Contemplatio (contemplação).

O termo Lectio Divina foi utilizado pela primeira vez por Orígenes, um teólogo cristão do século III, que afirmava que a leitura da Bíblia deveria ser feita com atenção, oração e constância, promovendo um encontro entre o praticante e Deus. 

A Lectio Divina foi posteriormente sistematizada no século XII por Guigo II, um monge cartuxo, que descreveu o processo como uma escada espiritual, pela qual a alma sobe da terra ao céu, através do contato profundo com a Palavra.

Tradicionalmente, a Lectio Divina era praticada principalmente em mosteiros, mas, com o tempo, sua importância foi redescoberta e incentivada para todos os cristãos, especialmente após o Concílio Vaticano II. 

Esse concílio reafirmou a importância da prática, promovendo a restauração da Lectio Divina como uma via de salvação espiritual para os fiéis.

Como se faz a Lectio Divina?

A Lectio Divina é composta por quatro passos fundamentais que conduzem o praticante a uma comunhão mais profunda com Deus através das Escrituras. Esses passos são realizados de maneira progressiva e podem ser repetidos várias vezes até que a mensagem do texto bíblico penetre no coração e na mente do praticante.

  1. Lectio (Leitura): A leitura é o primeiro passo e consiste em ler o texto bíblico com calma e atenção. É importante que o leitor faça isso de forma lenta, permitindo que as palavras toquem seu coração. Durante essa fase, é essencial evitar buscar imediatamente um significado profundo, focando primeiro no entendimento literal do texto. Perguntas como “O que o texto diz?” ou “Quem são os personagens envolvidos?” ajudam a contextualizar o conteúdo. Muitos praticantes preferem escolher textos curtos, como as leituras do Evangelho, para facilitar a reflexão.
  2. Meditatio (Meditação): Após a leitura, o segundo passo é a meditação, onde o praticante começa a refletir sobre o que o texto significa em um nível pessoal e espiritual. Aqui, as perguntas mudam para “O que Deus está dizendo para mim através deste texto?”. Esse é o momento de ruminar as palavras, permitindo que elas penetrem profundamente na alma, trazendo a mensagem divina para a vida cotidiana do praticante.
  3. Oratio (Oração): A oração é a resposta natural do praticante àquilo que foi lido e meditado. Nesse estágio, é o momento de dialogar com Deus, expressando sentimentos, gratidão, pedidos ou até mesmo confissões. A oração não precisa seguir um formato rígido, podendo ser espontânea e guiada pelo Espírito Santo.
  4. Contemplatio (Contemplação): Na contemplação, o praticante descansa em Deus. Este é um momento de silêncio e de presença divina, onde a alma se aquieta e permite que Deus fale ao coração sem a necessidade de palavras. A contemplação é descrita como o ponto mais profundo da Lectio Divina, em que o praticante experimenta a comunhão direta com o mistério de Deus.

Qual a Lectio Divina de hoje? Quais são as leituras da Lectio Divina?

A Lectio Divina pode ser praticada com qualquer passagem da Bíblia, mas uma recomendação comum é seguir as leituras diárias da liturgia da Igreja Católica. As leituras da liturgia do dia são uma forma de unir a oração individual à oração da Igreja universal. Isso permite que os praticantes se conectem não só com Deus, mas também com a comunidade de fiéis ao redor do mundo.

Dentro da Comunidade Trono de Davi, por exemplo, a prática diária da Lectio Divina é frequentemente feita com base na liturgia do dia, como uma forma de acompanhar o ritmo litúrgico da Igreja. Assim, os textos bíblicos que são proclamados na missa diária servem como base para a leitura orante. 

Essa é uma prática recomendada para aqueles que desejam uma orientação clara sobre quais textos meditar diariamente, mas é importante lembrar que qualquer passagem das Escrituras pode ser usada para a Lectio Divina, dependendo das necessidades espirituais do praticante.

Quais são os 4 passos da Leitura Orante?

Os quatro passos da Lectio Divina foram descritos como degraus espirituais por Guigo II e são seguidos de forma progressiva, levando o praticante a um relacionamento mais íntimo com Deus. Esses degraus são:

  1. Lectio (Leitura): Este é o início do processo, em que o texto é lido repetidamente, buscando uma compreensão clara e objetiva do que está sendo dito. É fundamental prestar atenção aos detalhes do texto, como os personagens, o cenário e as ações descritas.
  2. Meditatio (Meditação): Na meditação, o praticante reflete sobre o que o texto significa para ele pessoalmente. Este é o momento de trazer o texto para o contexto da vida diária e buscar discernir o que Deus está tentando comunicar através da Palavra.
  3. Oratio (Oração): A oração surge como uma resposta à meditação. Depois de ouvir a voz de Deus por meio das Escrituras, o praticante fala com Ele. A oração pode ser de louvor, de pedido, de agradecimento ou de perdão, conforme as inspirações surgem no coração.
  4. Contemplatio (Contemplação): Finalmente, a contemplação é o estágio em que o praticante se silencia diante de Deus. Este é um momento de paz e entrega total, onde a alma descansa na presença divina e experimenta a comunhão com Deus.
estatua lectio divina

Dicas práticas básicas para fazer Lectio Divina

Para aqueles que desejam começar sua prática da Lectio Divina, algumas dicas práticas podem ajudar a transformar essa experiência em um momento de oração profundo e transformador:

  1. Escolha um lugar tranquilo: A Lectio Divina exige concentração e silêncio. Um ambiente tranquilo e sem distrações é fundamental para que o praticante possa ouvir a voz de Deus através da Palavra.
  2. Estabeleça um tempo diário: Dedicar um momento fixo do dia para a Lectio Divina é uma excelente forma de manter a consistência. Para iniciantes, pode ser útil começar com 10 a 15 minutos e, gradualmente, aumentar esse tempo à medida que a prática se torna mais familiar.
  3. Use um texto curto: Especialmente no início, é recomendável escolher passagens curtas da Bíblia, como as leituras do Evangelho do dia. Isso ajuda a focar melhor no conteúdo e facilita o processo de meditação.
  4. Anote suas reflexões: Registrar o que foi lido, meditado e orado pode ser uma excelente maneira de acompanhar o crescimento espiritual ao longo do tempo. Além disso, anotar compromissos pessoais derivados da Lectio pode ajudar a integrar a Palavra de Deus à vida cotidiana.
  5. Peça a ajuda do Espírito Santo: Antes de iniciar a Lectio Divina, faça uma breve oração pedindo a orientação do Espírito Santo. Isso abrirá o coração para receber a mensagem que Deus deseja transmitir através das Escrituras.
  6. Partilhe a Lectio Divina em grupo: Embora tradicionalmente seja uma prática individual, a Lectio Divina também pode ser feita em grupo. A troca de percepções e orações pode enriquecer a experiência e trazer novas perspectivas sobre o texto bíblico.

Dicas avançadas para fazer Lectio Divina

A Lectio Divina é uma prática que exige paciência e perseverança, e seguir algumas recomendações pode aprimorar a experiência e facilitar a conexão com a Palavra de Deus. A seguir, são oferecidas orientações práticas, enriquecidas por reflexões das “46 Teses sobre a Lectio Divina“.

  1. Evite a pressa: Um dos primeiros desafios na Lectio Divina é a tentação da pressa. É essencial resistir a essa tendência e permitir que a leitura seja serena e desinteressada, sem a urgência de “ter lido” rapidamente. Como afirma Abba Bernardo, é necessário “ir no ritmo de uma caminhada”, permitindo que cada palavra seja absorvida lentamente.
  2. Combata as distrações: Durante a prática, distrações são inevitáveis, mas é importante retornar à leitura sempre que a mente divagar. Uma forma eficaz de lidar com isso é focar nas palavras-chave e repetir a leitura até que a mente esteja inteiramente focada.
  3. Pratique a perseverança: A Lectio Divina não oferece gratificações imediatas. O processo é muitas vezes lento e exige tanto atividade quanto receptividade. É como plantar uma semente que não germina de um dia para o outro. Dessa forma, a prática contínua permite um crescimento espiritual ao longo do tempo, como uma transformação lenta, mas profunda, em comunhão com Deus.
  4. Mantenha a Palavra no coração: Parte da prática é reter algo da leitura diária na memória. A Palavra de Deus deve ser levada adiante, assim como se leva uma refeição para ser digerida ao longo do dia. É recomendável memorizar ao menos uma passagem ou ponto significativo para refletir durante o dia.
  5. Escolha o momento certo: A Lectio Divina deve ser realizada em um momento tranquilo do dia, preferencialmente antes que as preocupações diárias tomem conta da mente. Muitos praticantes preferem o início do dia, quando a mente ainda está livre e receptiva.
  6. Permita que Deus guie o processo: Lembre-se de que a Lectio Divina não é um estudo bíblico. Não se trata de tentar controlar ou decifrar a Palavra de Deus, mas sim de se render a ela. A Bíblia, em sua profundidade, desafia nossas crenças e exige uma postura aberta, receptiva e sem pressunções.

Conclusão

A Lectio Divina é uma prática espiritual transformadora que convida o cristão a mergulhar nas Escrituras e, através de um processo de leitura, meditação, oração e contemplação, encontrar-se com Deus de maneira íntima e profunda. 

Incorporando a Lectio Divina ao cotidiano e utilizando as leituras da liturgia diária, os praticantes podem viver uma vida de oração mais plena, conectando-se tanto com a Palavra quanto com a comunidade de fé ao redor do mundo

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A pobreza – Por: Padre Julian Camargo

Homilia do XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B 

A liturgia deste 23º Domingo do Tempo Comum trata de um tema muito delicado e, em tempos marcados pela polarização, muito difícil de ser tratado com a seriedade que merece. Apesar de complexo e de despertar muitas discussões acaloradas, é um tema que não pode ser negligenciado pelos cristãos, pois se trata de um tema central na pregação de Cristo. A liturgia de hoje nos fala da pobreza

A pobreza é um problema que assola a humanidade desde a suas origens e ao longo dos séculos muitos sistemas buscaram dar respostas, soluções, apontar caminhos para uma sociedade mais justa e mais fraterna. 

Alguns achavam que o problema da pobreza seria resolvido através de um sistema político e econômico. Neste sentido surgiram sistemas que prometiam solucionar o problema e criar, por assim dizer, o paraíso na Terra.

Um desses sistemas políticos é o comunismo. Resumidamente, o comunismo surgiu como uma resposta às desigualdades sociais e econômicas decorrentes da Revolução Industrial, que ampliou a diferença entre ricos e pobres. O filósofo alemão Karl Marx foi um dos precursores do comunismo e, juntamente com Friedrich Engels, escreveu o “Manifesto do Partido Comunista”.

Nele, os autores apresentam a ideia de que a sociedade é dividida em classes  sociais opostas, a burguesia (ricos) e o proletariado (pobres), e que a luta de classes é inerente  à sociedade capitalista. Então, na visão Marx e de seus discípulos, o problema da pobreza seria  resolvido com a distribuição das riquezas e com o controle do Estado sobre os bens e os meios  de produção. 

Porém logo esse sistema se mostrou inválido. Os locais que tentaram seguir por  esse caminho logo caíram no autoritarismo e na repressão violenta. E o sistema que prometia  acabar com a desigualdade acabou afundando a população na miséria. Além disso, o  comunismo, ao defender o materialismo histórico, também quer tirar do ser humano a abertura  ao transcendente, ou seja, nessa visão de mundo não existe Deus e religião. 

Do lado totalmente oposto ao comunismo, surgiu um outro sistema que também prometia  solucionar o problema da pobreza, mas através de um outro caminho. Estamos falando aqui do  liberalismo, que a partir do século XX passa a ter uma outra face, ainda mais profunda, chamada  de neoliberalismo.

De uma maneira geral o liberalismo é uma corrente política e econômica  que defende a liberdade individual e o livre mercado como solução para os problemas sociais e  econômicos. Os defensores do liberalismo argumentam que a liberdade de escolha e a  competição no mercado são capazes de gerar riqueza e reduzir a pobreza. 

Para os liberais, o  Estado deve ter um papel mínimo na economia, limitando-se a garantir a propriedade privada e  a livre concorrência. Para os liberais, a pobreza é resultado de uma série de fatores, como falta  de oportunidades, baixa produtividade e excesso de regulamentação estatal. A solução para esse  problema, portanto, seria promover um ambiente econômico mais favorável ao  empreendedorismo e à criação de riqueza. 

Mas é importante reconhecer que esse modelo  também tem suas limitações. Uma das principais críticas é que ele pode levar à concentração  de poder econômico nas mãos de poucos agentes, o que pode perpetuar as desigualdades  socioeconômicas. 

Além disso, em um mercado livre nem sempre há incentivos para se investir  em áreas que não são lucrativas no curto prazo, como a preservação do meio ambiente ou a  redução da pobreza em regiões mais pobres. 

O próprio Papa Francisco tem alertado para as  consequências do consumismo desenfreado incentivado pela teoria neoliberal, como a cultura  do descarte (que ultrapassa os limites econômicos causando reflexos na convivência social), a  exploração dos recursos naturais e o consequente descuido com a casa comum. Portanto, fica  claro que também o neoliberalismo não consegue solucionar a questão.

Na liturgia de hoje fica claro que Jesus fez uma escolha preferencial pelos pobres e, como  podemos perceber, há no mundo outras forças que também afirmam que escolhem os pobres,  tornou-se necessário definir bem em que consiste a escolha dos pobres feita por Jesus e em que  se distingue de qualquer outra. 

A escolha de Jesus é uma escolha primeiramente religiosa. As  outras são uma escolha política. Jesus ama e prefere os pobres, os que sofrem, os  marginalizados: mas por que o faz? Não porque odeia o rico, mas porque, no fundo desta opção  preferencial pelos pobres está o desígnio de Deus de salvar a fraqueza com a fraqueza,  invertendo a lógica humana do mais forte que é uma lógica impiedosa e desumanizante. 

Mas é necessário entender bem, no evangelho não se trata de recompensar a pobreza com um  prêmio ultraterreno: uma espécie de prêmio de consolação para compensar aquilo que não se  consegue dar-lhes neste mundo; trata-se simplesmente da condição mais favorável que desfruta  o pobre para conhecer a Deus e escolher os verdadeiros valores que formam o Reino de Deus.  

Tanto mais que aquele prêmio não está destinado exclusivamente ao pobre; a história do rico e  Lázaro, por exemplo, mostra que é difícil ao rico conquistá-lo, não que lhe seja impossível.  Basta que os ricos também entrem na categoria dos “pobres de espírito”, isto é, daqueles que  escolheram tornar-se pobres, ou ao menos ajudar os pobres. 

Teria bastado que o rico tivesse  agido de outra forma para com o pobre Lázaro que jazia à sua porta, que tivesse usado de modo  diferente suas riquezas, em vez de se banquetear a cada dia esplendidamente e vestir-se de  púrpura e linho fino (cf. Lc, 16,19). 

Neste sentido, portanto, Deus escolheu os pobres. O que significa para nós essa escolha de Deus  manifestada em Jesus Cristo? Duas coisas: primeiro, que nós seremos escolhidos por Deus se  tivermos parte dos pobres, no sentido que o evangelho dá a esta palavra; segundo, que de nossa  parte também nós devemos escolher, como Deus, os pobres. 

Mas esta escolha tem que traduzir-se em ato pela participação de cada membro da Igreja. Hoje  se fala muito da opção pelos pobres; em geral, com isso se entende incentivar a Igreja  institucional a se colocar ao lado dos operários, a defender os direitos dos oprimidos, a  denunciar os desmandos do poder político e econômico em relação a eles. 

É certamente também  uma forma evangélica de se preocupar com os pobres, desde que não seja inspirada por  sectarismo político e tenha em vista de verdade a libertação dos pobres e não sua manipulação.  Mas sozinha é insuficiente, aliás, não é nada. Porque ela pode se tornar um pretexto que mostra  somente o que os outros (as estruturas e as instituições) deveriam fazer e não aquilo que nós  deveríamos e poderíamos fazer desde já. 

São Tiago em sua carta nos aponta com força esta concretude na escolha dos pobres. Imagina  um caso muito realista: numa assembleia litúrgica entra um rico luxuosamente vestido e, junto  com ele, um pobre com roupas sujas. Ao primeiro se oferece um lugar de destaque, enquanto o  segundo é convidado a se sentar abaixo do estrado. A observação de Tiago questiona nossas  assembleias. Será que na nossa Igreja somos todos iguais em dignidade? 

Falta-nos vivificar esta igualdade, ou melhor, rompê-la; mas rompê-la desta vez em favor dos  pobres, dos idosos, dos que sofrem; os humildes devem ser entre nós os preferidos, as pupilas,  o objeto de nossa atenção e nosso respeito.

O que São Tiago diz tem, naturalmente, infinitas aplicações na vida de cada dia. Procuremos  descobri-las e acharemos muitos motivos para nos envergonhar. É tão fácil e natural escolher  os ricos e os poderosos, dirigir a própria atenção às pessoas de destaque e simpáticas, enquanto  é tão raro dar uma verdadeira atenção aos pobres e respeitar sua dignidade. 

O próprio Jesus nos  questiona sobre isso em Lc 6,34: “Se emprestais aqueles de quem esperais receber, que  recompensa mereceis? Se convidais aquele que pode, por sua vez, convidar-vos também,  que mérito tereis?”. Vamos aprender com os pobres. Vamos defender os pobres. Mas acima de  tudo, vamos amar os pobres, pois amando-os estaremos amando ao próprio Cristo!

padre julian camargo

Padre Julian Camargo é presbítero da Arquidiocese de Sorocaba. Ordenado em 06/11/2022, atualmente atua como vigário na Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte.

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Maria Rainha: exagero?

Memória da Bem-Aventurada Virgem Maria, Rainha

Atribuir o título de Rainha à Virgem Maria pode parecer exagerado. Afinal, não seria apenas Jesus o Rei e Soberano do céu e dos nossos corações? Ora, essa objeção é superada quando meditamos para as verdades teologais que a Revelação traz sobre Maria. 

É superada ainda mais quando entendemos um princípio básico que, de alguma forma, estava previsto na Constituição Dogmática Lumen Gentium, documento do Concílio Vaticano II. O papa Paulo VI fez questão de sublinhar:

Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava S. Ambrósio.¹

O que Maria é, de alguma forma, é aquilo que a Igreja também é. Contemplar os mistérios relacionados à Virgem Maria é contemplar o que a Igreja Santa – como Povo de Deus na comunhão espiritual dos crentes e, ao mesmo tempo, sociedade visível – já é e será ainda mais perfeitamente na ressurreição da carne. Em Maria, portanto, cada fiel deve se ver e se enxergar profeticamente no dia em que Cristo chamar-nos dos mortos.

A Virgem Maria é, em primeiro lugar, Imaculada. O que significa que a serva do Senhor, a bendita entre todas as mulheres, foi preservada da mancha do pecado original no momento em que foi concebida. O pecado não encontrou lugar ou espaço em Maria. Esta também será a realidade da Igreja no dia da Vinda do Senhor, quando este irá “apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito seme­lhante, mas santa e irrepreensível”².

Olhar para a Imaculada Conceição é vislumbrar o que seremos um dia. No céu, não teremos mais as manchas e as inclinações que tanto nos pesam neste vale de lágrimas.

Maria também é Mãe de Deus. Sendo Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Maria esteve intimamente unida à natureza humana do Filho de Deus. Esta natureza humana, no entanto, não pode ser separada da sua natureza divina. Homem e Deus estão unidos em Jesus. A união de Maria com Seu Filho nos fala sobre a união pretendida por Nosso Senhor com a Igreja. Cristo quer estar unido à Igreja como Maria estava tão intimamente unida a Ele. Essa união se aplica a mim. Jesus quer-me unido a Ele!

Maria também é Sempre Virgem, o que significa que Ela consagrou sua Virgindade perpetuamente a Deus, permanecendo intacta até o dia em que foi chamada pelo Senhor aos céus. Essa virgindade não é fruto de uma pseudo-visão católica negativa sobre a sexualidade. Não, muito pelo contrário: a maior entre todas as celibatárias abriu mão de um dom precioso que é a convivência sexual para consagrar-se mais profunda e radicalmente a Deus.

O corpo virginal de Maria é um sinal que nossos corpos – o corpo da Igreja – não foi feito para a sepultura, mas para o Senhor. A virgindade perpétua de Maria, portanto, é um sinal daquela consagração total que Cristo espera da Sua Igreja, que Cristo espera de mim.

Por fim, Maria foi assunta ao céu de corpo e alma. Por não ter sido tocada pelo pecado, Jesus quis que Maria fosse a primeira criatura a provar da ressurreição da carne. Por isso, hoje, a benditissima Virgem Maria está no céu glorificada. Seu corpo e sua alma estão provando da suavidade do Senhor. A assunção de Maria é um sinal da Igreja Gloriosa que será ressuscitada no Dia Final. Olhar para Maria assunta ao céu é lembrar que eu fui feito para a Vida Eterna.

É por isso que Maria é Rainha. Não é Rainha porque praticamos uma mariolatria. É Rainha porque a glória que Maria experimenta hoje é única. Mas essa glória um dia será de toda a Igreja. Um dia, todos nós “reinaremos com Cristo”, como o próprio Apóstolo Paulo nos recorda na carta a Timóteo. Chamar Maria de Rainha é lembrar que um dia eu reinarei se, aqui na terra, meu coração saber viver submetido à vontade divina, como a própria Virgem Maria ensinou: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-me em mim segundo a vossa palavra”³.


¹ Lumen Gentium, nº 63. Negrito nosso.

²Efésios 5, 27. Tradução da Bíblia Ave Maria

³Lucas 1, 38. Tradução do Lecionário da CNBB.

Memória da Bem-Aventurada Virgem Maria, Rainha
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Centro Arquidiocesano de Pastoral Receberá Curso Intensivo de Teologia do Corpo

curso de teologia do corpo em sorocaba

A Comunidade Católica Trono de Davi está preparando um evento especial para todos aqueles que buscam entender mais profundamente sobre sexualidade, casamento e o verdadeiro sentido da vida. O Curso Intensivo de Teologia do Corpo será realizado no Centro Arquidiocesano de Pastoral (CAP) da Arquidiocese de Sorocaba, localizado na Av. Eugênio Salerno, 60.

A Teologia do Corpo, um conjunto de catequeses apresentadas pelo Papa João Paulo II entre 1979 e 1984, tem sido um marco na reflexão católica sobre a sexualidade humana. Ela explora a beleza e a profundidade do amor humano como reflexo do amor divino, além de destacar o sentido transcendente da vida e das vocações.

O curso acontecerá em sete encontros, todas as quintas-feiras, das 19h às 22h, iniciando no dia 11 de abril. Durante esses encontros, os participantes terão a oportunidade de mergulhar nos ensinamentos da Teologia do Corpo, compreendendo a importância da diferenciação sexual, a visão de João Paulo II sobre a pessoa humana e a analogia esponsal, entre outros temas fundamentais.

Para Mateus Bortolini, fundador da Comunidade Trono de Davi, o curso é uma oportunidade única de entender a conexão entre o corpo humano e a espiritualidade: “Este curso nos ajuda a entender que o corpo possui um significado e fala sobre Deus. Por isso, o seu corpo pode ajudar a compreender o sentido último da sua vida”.

O objetivo principal do curso é fornecer aos participantes uma visão integral sobre o ser humano, promovendo uma compreensão autêntica da sexualidade à luz dos ensinamentos católicos. As inscrições estão abertas até 5 de abril, com vagas limitadas, e o valor da inscrição é de R$ 30,00.

Para se inscrever e garantir sua vaga neste curso transformador, acesse o link: Formulário de Inscrição

Não perca esta oportunidade de aprofundar sua compreensão sobre a sexualidade humana e descobrir o verdadeiro significado do amor e da vida.

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Cerca de 50 Pessoas Iniciam Propósito de Leitura Bíblica em 1 Ano com a Comunidade Trono de Davi

A Comunidade Católica Trono de Davi está embarcando em um propósito significativo neste ano, envolvendo cerca de 50 pessoas de todas as idades e origens. O desafio? Ler toda a Bíblia em apenas um ano, seguindo a ordem cronológica de escrita dos livros, de acordo com a metodologia do Professor João Cláudio Rufino, renomado especialista em Bíblia e professor na PUC-SP.

A disciplina interna da comunidade inclui a leitura diária de três a quatro capítulos, com encontros mensais para partilha e formações. Homens e mulheres terão encontros separados, proporcionando um espaço de discussão mais íntimo e focado.

O primeiro encontro, realizado no dia 9 de janeiro para os homens e no dia 10 para as mulheres, foi marcado pela apresentação da metodologia pelo fundador da Comunidade, Mateus Bortolini. Durante a sessão, Bortolini também ministrou uma formação esclarecedora sobre o Antigo Testamento, preparando os participantes para o início da jornada de leitura que se inicia no dia 11 de janeiro.

Em entrevista, Mateus Bortolini compartilhou sua visão sobre o propósito da leitura: “Neste primeiro encontro, recebemos uma formação voltada ao método no qual iremos conduzir nossa leitura (ordem cronológica) e uma introdução básica do Antigo Testamento. Nosso objetivo com a leitura é ter mais intimidade com Deus mediante Sua palavra e assim também conhecer melhor Sua vontade.”

A Comunidade Trono de Davi convida todos a acompanharem as novidades sobre esse propósito especial em suas redes sociais, especialmente no Instagram, onde serão compartilhados updates e reflexões ao longo do ano.

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5 chaves de leitura para entender a Teologia do Corpo

chaves de leitura teologia do corpo

Este texto é uma tradução livre do artigo originalmente publicado em inglês no site Catholic Education.

Existe muita emoção hoje, especialmente entre os jovens, sobre a “Teologia do Corpo” de João Paulo II – os 129 pronunciamentos catequéticos que ele deu entre 1979 e 1984 que revolucionaram a forma como muitos teólogos ensinam agora sobre amor, sexualidade e casamento.

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Abusos sexuais na família justificam uma educação estatal?

abuso sexual infantil educação estatal

As crianças não pertencem ao Estado. Existem casos de abuso sexual no ambiente familiar? Com certeza, mas isso não muda o fato de que a educação de uma criança não pode ser determinada e exclusivamente promovida pelo Estado. Educação estatal é um erro.

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Hábitos alimentares equivocados e suas desordens espirituais e físicas

alimentação saudável

Texto escrito por: Carla Cristine

O pecado entrou no mundo através do pecado original. Adão e Eva foram seduzidos pelo demônio à comer do fruto proibido e por meio da queda deles a desordem entrou no mundo. Um fato importante a se destacar desse episódio está descrito em Gn 3, 6 – “A mulher vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele comeu e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente.”

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A hermenêutica bíblica utilizada por João Paulo II na Teologia do Corpo

Autores: Francisco Deusimar Andrade Albuquerque / Daniel Barreto de Oliveira / Emanuel Nilo da Silva Aires

Conteúdo de propriedade intelectual dos autores. Publicação aqui foi realizada a partir de autorização do primeiro autor (Desuimar);

Introdução

A Teologia do Corpo é um conjunto de catequeses que São João Paulo II pronunciou de 1979 a 1984, que depois ficou conhecido como Catequeses sobre o Amor Humano, ou simplesmente Teologia do Corpo (TdC). Eleito Papa em 1978, com pouco tempo inicia esse conjunto de catequeses, que pela profundidade e extensão levam a supor que pelo menos um esboço desse projeto já estava pronto.

Seria esse composto principalmente pelo memorandum produzido pela comissão diocesana de Cracóvia para enviar como proposta para Paulo VI na composição da Humanae Vitae? (cf. SEMEN, 2006, p. 41) Não o temos como afirmar com toda certeza; porém, não seria difícil supor a correlação desses dois escritos. Ele mesmo admite esse intuito de um comentário mais amplo da doutrina contida na encíclica4 (cf. TdC 28/11/1984, 2.4).

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Pentecostalidade, teologia do corpo e oração

pentecostalidade

Gestos expressivos, palavras em voz alta, palmas e movimentos corporais. Se você é de ambiente católico com certeza já associou essa descrição a reuniões carismáticas ou, então, pentecostais.

É exatamente sobre isso que falaremos, só que com uma abordagem da teologia do corpo. Afinal, as orações extravagantes comuns em determinados ambientes são aceitáveis para a visão católica? O extravasamento emotivo manifesto em experiências carismáticas está de acordo com a antropologia proposta por São João Paulo II na Teologia do Corpo? Confira:

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